Frases de Marquês de Maricá
Foi um escritor, filósofo e polÃtico brasileiro.
Louvamos encarecidamente o estado, ciência ou arte que professamos, para justificar a nossa escolha e honrar as nossas pessoas.
Somos tão avaros em louvar os outros homens, que cada um deles se crê autorizado a louvar-se a si próprio.
Nunca os louvores que damos são gratuitos; temos sempre em vista alguma retribuição por este sacrifÃcio do nosso amor-próprio.
A constância nas nossas opiniões seria geralmente embaraço e oposição ao progresso e melhoramento da nossa inteligência.
O orgulho pode parecer algumas vezes nobre e respeitável, a vaidade é sempre vulgar e desprezÃvel.
Ordinariamente tratamos com indiferença aquelas pessoas de quem não esperamos bens nem receamos males.
Quando não podemos gozar a satisfação da vingança, perdoamos as ofensas para merecer ao menos os louvores da virtude.
Os soberbos são ordinariamente ingratos; consideram os benefÃcios como tributos que se lhes devem.
Há muitos homens que se queixam da ingratidão humana para se inculcarem benfeitores infelizes ou se dispensarem de ser benfazentes e caridosos.
Se não podemos compreender o mÃnimo de uma flor ou de um inseto, como poderemos compreender o máximo do Universo!
A impunidade não salva da pena e castigo merecido; retarda-o para o fazer mais grave pela reincidência e agravação das culpas e crimes subseqüentes.
Ninguém considera a sua ventura superior ao seu mérito, mas todos se queixam das injustiças dos homens e da fortuna.
É necessário subir muito alto para bem descortinar as ilusões e angústias da ambição, poder e soberania.
A inveja, que abrevia ou suprime os elogios, é sempre minuciosa e prolixa na sua crÃtica e censura.
Ninguém é tão prudente em despender o seu dinheiro, como aquele que melhor conhece as dificuldades de o ganhar honradamente.
Saber viver com os homens é uma arte de tanta dificuldade que muita gente morre sem a ter compreendido.
A civilização moderna é devida mais à derrubada de erros antigos acumulados, que à descoberta de verdades novas.
A gratidão também é produto do nosso amor-próprio: julgamo-nos desobrigados dos benefÃcios se nos confessamos agradecidos.
Os nossos inimigos contribuem mais do que se pensa para o nosso aperfeiçoamento moral. Eles são os historiadores dos nossos erros, vÃcios e imperfeições.
O meio mais eficaz de nos vingarmos dos nossos inimigos é fazendo-nos mais justos e virtuosos do que eles.
Os homens creem tão pouco na autoridade da própria razão que acabam por justificá-la com a alegação da dos outros.
A autoridade é tão poderosa entre os homens, que sustentamos e defendemos com ela as nossas opiniões individuais.
Uns homens sobem por leves como os vapores e gases, outros como os projécteis pela força do engenho e dos talentos.
Ambicionando o louvor e admiração dos outros homens, provocamos frequentes vezes a sua inveja e aversão.
Os maus não nos levam em conta a nossa bondade e indulgência, reputam-na fraqueza, e tiram o argumento para multiplicar as suas malfeitorias.
A fruição desencanta muitos bens e prazeres sensuais, que a imaginação, os desejos e as esperanças figuravam encantadores.
O nosso amor-próprio é tão exagerado nas suas pretensões, que não admira se quase sempre se acha frustrado nas suas esperanças.
O pior mal da escravidão é conservar os cativos na ignorância e bruteza, pela opinião de que são assim mais dóceis, humildes e subordinados.
A escravidão é o tributo que a ignorância paga à força dirigida por maior e melhor inteligência.
O entusiasmo é um gênero de loucura que conduz algumas vezes ao heroÃsmo, e muitas outras a grandes crimes e malfeitorias.
Aprovamos algumas vezes em público por medo, interesse ou civilidade, o que internamente reprovamos por dever, consciência ou razão.
A obstinação nas disputas é quase sempre efeito do nosso amor-próprio: julgamo-nos humilhados se nos confessamos convencidos.
Disputa-se com mais frequência sobre as coisas frÃvolas do que nas mais importantes; as primeiras alcançam a compreensão de todos.
Há muita gente para quem o receio dos males futuros é mais tormentoso que o sofrimento dos males presentes.
Sobeja-nos tanto a paciência para tolerar os males alheios, quanto nos falta para suportar os próprios.
O que se qualifica em alguns homens como firmeza de caráter não é ordinariamente senão emperramento de opinião, incapacidade de progresso, ou imutabilidade da ignorância.
Os ingratos pensam minorar ou justificar a sua ingratidão, memorando com frequência os vÃcios e defeitos dos seus benfeitores.
Há benefÃcios conferidos com tal rudeza e grosseria que de algum modo justificam os beneficiados da sua ingratidão.
As paixões são como os vidros de graus, que alteram para mais ou para menos a grandeza e volume dos objetos.
O nosso amor-próprio exalta-se mais na solidão: a sociedade reprime-o pelas contradições que lhe opõe.
Há certos passatempos e prazeres ilÃcitos, que censuramos nos outros, mais por inveja do que por virtude.
Enganamo-nos ordinariamente sobre a intensidade dos bens que esperamos, como sobre a violência dos males que tememos.
Sempre haverá mais ignorantes que sabedores, enquanto a ignorância for gratuita e a ciência dispendiosa.
A impaciência em que vivemos provém da nossa ignorância, queremos que os homens e as coisas sejam o que não podem ser, e deixem de ser o que são por sua essência e natureza.
Achar em tudo desordem é prova de supina ignorância; descobrir ordem e sistema em tudo é demonstração de profundo saber.
É tal a nossa imprevidência ou ignorância, que tomamos por um grave mal o que freqüentes vezes é origem e ocasião dos maiores bens.
As grandes livrarias são monumentos da ignorância humana. Bem poucos seriam os livros se contivessem somente verdades. Os erros dos homens abastecem as estantes.
Não se reconhece tanto a ignorância dos homens no que confessam ignorar, como no que blasonam de saber melhor.
A ignorância, lidando muito, aproveita pouco: a inteligência, diminuindo o trabalho, aumenta o produto e o proveito.
A ignorância que deverá ser acanhada, conhecendo-se, é audaz e temerária quando não se conhece.
É tal a falibilidade dos juÃzos humanos, que muitas vezes os caminhos por onde esperamos chegar à felicidade conduzem-nos à miséria e à desgraça.
Não desespereis na desgraça, ela é frequentes vezes uma transição necessária para a boa fortuna.
Desesperar na desgraça é desconhecer que os males confinam com os bens, e que se alternam ou se transformam.
A vitória de uma facção polÃtica é ordinariamente o princÃpio da sua decadência pelos abusos que a acompanham.
Os tolos são muitas vezes promovidos a grandes empregos em utilidade e proveito dos velhacos, que melhor os sabem desfrutar.
Os aduladores são como as plantas parasitas que abraçam o tronco e ramos de uma árvore para melhor a aproveitar e consumir.
Ninguém resiste à lisonja sendo administrada, oportunamente, com a perÃcia e destreza de um hábil adulador.
Somos muito generosos em oferecer por civilidade o que bem sabemos que por civilidade se não há-de aceitar.
A igualdade repugna de tal modo aos homens que o maior empenho de cada um é distinguir-se ou desigualar-se.
Queixam-se muitos de pouco dinheiro, outros de pouca sorte, alguns de pouca memória, nenhum de pouco juÃzo.
Unir para desunir, fazer para desfazer, edificar para demolir, viver para morrer, eis aqui a sorte e condição de natureza humana.
Amigos há de grande valia, que todavia não podem fazer-nos outro bem, senão impedindo pelo seu respeito que nos façam mal.
Os faladores não nos devem assustar, eles revelam-se: os taciturnos incomodam-nos pelo seu silêncio, e sugerem justas suspeitas de que receiam fazer-se conhecer.
Os velhos invejam a saúde e vigor dos moços, estes não invejam o juÃzo e a prudência dos velhos: uns conhecem o que perderam, os outros desconhecem o que lhes falta.
A mudança rápida da temperatura do ar não é mais funesta à saúde individual do que a das opiniões polÃticas à tranquilidade das nações.
Os velhos que se mostram muito saudosos da sua mocidade não dão uma ideia favorável da maturidade e progresso da sua inteligência.
Ter privança com os que governam é contrair responsabilidade no mal que fazem, sem partilhar o louvor do bem que operam.
Não é menos funesto aos homens um superlativo engenho, do que às mulheres uma extraordinária beleza: a mediocridade em tudo é uma garantia e penhor de segurança e tranquilidade.
Os homens sem mérito algum, brochados de insÃgnias e de ouro, são comparáveis aos maus livros ricamente encadernados.
Na admissão de uma opinião ou doutrina, os homens consultam primeiramente o seu interesse, e depois a razão ou a justiça, se lhes sobeja tempo.
Há muitos homens reputados infelizes na nossa opinião, que todavia são felizes a seu modo, segundo as suas ideias.
A opinião pública é sempre respeitável, não pelo seu racionalismo, mas pela sua onipotência muscular.
A opinião pública é sujeita à moda, e tem ordinariamente a mesma consistência e duração que as modas.
A opinião da nossa importância nos é tão funesta como vantajosa e segura a desconfiança de nós mesmos.
Há muita gente que procura apadrinhar com a opinião pública as suas opiniões e disparates pessoais.
A civilidade é uma impostura indispensável, quando os homens não têm as virtudes que ela afecta, mas os vÃcios que dissimula.
Se a vida é um mal, por que tememos morrer; e se um bem, porque a abreviamos com os nossos vÃcios?
Bem curta seria a felicidade dos homens se fosse limitada aos prazeres da razão; os da imaginação ocupam os maiores espaços da vida humana.
A filosofia desagrada, porque abstrai e espiritualiza; a poesia debita, porque materializa e figura todos os seus objectos. Quereis persuadir e dominar os homens, falai à sua imaginação, e confiai pouco na sua razão.
Em saber gozar e sofrer, os animais levam-nos grande vantagem: o seu instinto é mais seguro do que a nossa altiva razão.
De todas as paixões do homem, depois de satisfeitas as que são comuns aos brutos, nenhuma tem mais veemência e força para impulsioná-lo, do que o desejo de se distinguir e ser superior aos outros.
O desejo da glória literária é de todas as ambições a mais inocente, sem ser todavia a menos laboriosa.
A decantada civilização tem multiplicado de tal modo as nossas necessidades e desejos, que para os contentar e satisfazer somos forçados, piorando de costumes, a sujeitar-nos a maiores trabalhos e cuidados.
É tão fácil o prometer, e tão difÃcil o cumprir, que há bem poucas pessoas que cumpram as suas promessas.